domingo, 24 de maio de 2009

Você constata desenvolvimento no Piauí

Você viu avanço no Piauí?
Tem o que comemorar no 'Dia da Indústria' no Piauí?

Apesar do discurso oficial, de que houve avanço,os industriais ainda enfrentam dissabores

Comemora-se neste dia 25 de maio o Dia da Indústria. O grande questionamento entre os empresários é se realmente existe algo para comemorar. Apesar do discurso oficial, de que houve avanço em todas as áreas, os industriais ainda enfrentam dissabores como a precária oferta de energia elétrica e uma política de estado que ainda se baseia na isenção fiscal como única forma de incentivo. Em contrapartida, faltam estradas, programas de qualificação da mão de obra, estruturas de abastecimento d'água condizentes com as necessidades das grandes empresas, dentre outras deficiências que dificultam o progresso do Piauí nesta área. O economista, professor da UFPI (Universidade Federal do Piauí) e secretário de Finanças da Prefeitura de Teresina), Felipe Mendes, em entrevista ao 180graus, declarou que "a indústria piauiense se mantém pequena em relação aos demais estados brasileiros." Segundo ele, "a participação da indústria na formação da renda do nosso estado é muito menor que Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe e outros, mesmo entre aqueles situados na região Nordeste." Vários fatores contribuem para isso, mas sem nenhuma dúvida, historicamente, o principal deles é a falta de investimentos do governo federal. Tome-se como exemplo a própria infraestrutura de geração de energia. Na Bahia, a Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso foi implantada em 1950. No Piauí, Boa Esperança, em Guadalupe, foi construída 20 anos depois e ainda assim de forma incompleta. "É muito difícil para a economia piauiense se fortalecer através da indústria por causa de problemas como este." O estado não pode competir quem produz com energia, enquanto ainda estaria produzindo a lenha ou tração animal.

ENERGIA É FUNDAMENTAL

Energia de qualidade é sinônimo de modernidade e eficiência na produção. Não há possibilidade de se pensar em progresso material ou desenvolvimento econômico sem energia em caráter confiável. Também não adianta energia de qualidade precária e constantes oscilações. O empresário Gilberto Pedrosa, da AIP (Associação Industrial do Piauí), afirma que o estado precisa avançar consideravelmente neste setor. "Nos últimos dez anos, a Cepisa viveu um processo de sucateamento", diz. "Até pouco tempo atrás, ela não conseguia atender a nenhum pedido de nova instalação porque não dispunha de medidores de energia. É como se uma quitanda não tivesse balança para pesar os produtos." Segundo Pedrosa, muitas prestadoras de serviços de manutenção contratadas pela Cepisa quebraram no decorrer dos anos por falta de pagamento. Ele aguarda investimentos assegurados pela Cepisa, na ordem de R$ 650 milhões até dezembro, para um novo dimensionamento da situação. A natureza também foi generosa em relação a outros estados. E a mão do homem eficaz no sentido de se beneficiar desta generosidade. No caso de Sergipe, 44% do PIB decorre das atividades do petróleo, não só da extração como de todos os outros passos da cadeia produtiva. Da mesma forma, o Rio Grande do Norte possui uma economia mais diversificada. Conta com área irrigada muito maior que a piauiense, recursos minerais em maior quantidade e participação do poder público no sentido de gerar as condições para que todo este potencial seja efetivamente explorado.

PORTO SECO

O Porto Seco do Piauí é outra promessa que não se materializa. Seria de vital importância para o desenvolvimento da economia do estado. No entanto, persiste apenas como uma projeção. Chamada de Estação Aduaneira, deveria movimentar perto de US$ 100 milhões (dólares) com a exportação de produtos manufaturados. O projeto está em andamento.

EXPLORAÇÃO DE MINÉRIOS

Na opinião de Felipe Mendes, a indústria piauiense terá impulso maior quando ocorrer a explocação dos nossos recursos minerais. Segundo ele, existem jazidas de ferro, nível, cobre e outros na região do semiárido. "Quando estes recursos forem explorados, então haverá uma reestruturação da nossa economia." A opinião é compartilhada pelo vice-governador, médico Wilson Martins, que está à frente de estudos realizados nos municípios de Paulistana, Simões, Betânia do Piauí e Jacobina do Piauí. Ali, de acordo com as conclusões apresentadas em oportunidade recente, foi constatada a existência de uma gigantesca mina de minério de ferro de boa qualidade. Para Martins, "o Piauí se transformará na mais nova fronteira mineral do País." Conforme declarou, a descoberta teria chamado a atenção do mundo e grandes investidores multinacionais da siderurgia e mineração que já estão se preparando para disputar a exploração da jazida piauiense. De acordo com as descobertas da GME4 do Brasil, empresa especializada em estudos minerais, a mina localizada nas regiões sul e sudeste do estado concentra reservas de 2,97 bilhões de toneladas do minério. Serão explorados inicialmente 882 milhões de toneladas. Os investimentos iniciais serão da ordem de US$ 770 milhões (dólares). Por enquanto, contudo, é apenas perspectiva. A ideia das autoridades locais é de que partir de 2012, obtendo um faturamento anual de US$ 1,4 bilhão, gerando 950 empregos diretos e 1.550 indiretos, propiciando significativa arrecadação tributária e através de recebimento de royalties para o estado e municípios contemplados.

INDUSTRIALIZAÇÃO E ICMS

Com seus 19.017 habitantes, o município de Uruçuí, na região sudeste, possui o segundo maior ICMS, que é hoje de R$ 1.062.260,89, de acordo com a Secretaria de Fazenda. Perde apenas para a capital, Teresina, com seus cerca de 80 mil habitantes e R$ 12,5 milhões de ICMS. Parnaíba, que tem sete vezes a população de Uruçuí, e está em terceiro na participação do imposto, com R$ 1.036.850,72. O município de Picos possui 70.450 habitantes e participa com R$ 982.226,96. Esses dados mostram o poder transformador da indústria", afirma Felipe Mendes. Ele afirma que isso acontece por causa da renda gerada pela instalação, em território uruçuiense, da Bumge Alimentos. "Aí é que está a importância da indústria. Gera renda e transforma a sociedade. Estudiosos afirmam que em função da industrialização da região, não apenas Uruçuí, como Ribeiro Gonçalves, Santa Filomena e outros municípios, apresentam-se hoje com uma mão de obra muito mais qualificada. Na própria agricultora, que está modernizada, exige-se maior qualidade na prestação de serviços. "É preciso produzir soja a preços competitivos, tem que ser tão eficiente quanto Mato Grosso, Goiás e outros", pontifica.

EXPORTAÇÕES

No tocante às exportações, os dados oficiais são animadores. De acordo com o governo, o Piauí estaria seguindo na contramão da crise mundial. As exportações teriam ampliado em pelo menos 111% no primeiro trimestre deste ano. A Secretaria de Fazenda informa que de de janeiro a abril deste ano o valor total das exportações piauienses foi equivalente a U$ 45 milhões (dólares), enquanto no mesmo período do ano passado, as exportações somavam U$ 21,5 milhões (dólares). O bagaço e outros resíduos sólidos da soja, responsáveis por U$ 28,5 milhões (dólares), permanecem no topo das exportações piauienses em 2009. As ceras vegetais, equivalentes a U$ 8,2 milhões (dólares), vêm logo em seguida. Depois vem o mel U$ 2,5 milhões (dólares); o álcool etílico U$ 1,4 milhões (dólares); a policarpina U$ 1,2 milhões (dólares) e a castanha de caju, com U$ 812 mil (dólares). Em janeiro, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as exportações do Piauí atingiram o valor de US$ 5.736 (dólares) milhões, um crescimento de 23,89% em relação ao mesmo período de 2008. As exportações do Piauí, em janeiro de 2009, contaram com a participação de 27 empresas exportadoras de médio e grande porte. Dessas, oito empresas não exportaram em 2008, refletindo o aumento da base exportadora do estado. Os principais destinos das exportações piauienses foram Estados Unidos - 45,36%, Alemanha - 21,91% e Japão 6,57% das vendas. Na ótica do secretário do Desenvolvimento Econômico e Tecnológico, Valério Carvalho, o cenário é animador. Ele afirma que apesar do receio dos empresários de queda nas vendas no mercado internacional por causa da crise mundial, "os dados oficiais não sugerem, por enquanto, um cenário negativo para as exportações do Piauí." Enfatiza: "Sabemos que o Piauí não está imune aos reflexos da crise, assim como não está nenhuma economia. Mas, por enquanto, os números nos mostram que a crise não afetou as nossas exportações."

PRODUTO INTERNO BRUTO

O governo se esforça por mostrar uma situação favorável em relação ao crescimento da renda do cidadão. Divulgou-se, por exemplo, que em 2006 o PIB (Produto Interno Bruto) do Piauí alcançou a cifra de R$ 12 bilhões. O crescimento seria da ordem de 72% se comparado com o ano de 2002 e de 15% tomando-se como referência o ano de 2004. Os números obtidos pelo Piauí em 2006, segundo o governo, indicam que o estado teve a terceira maior expansão no Nordeste. No contexto nacional ficou em sexto lugar, superado apenas pelo Ceará (8%), Espírito Santo (7,7%), Pará (7,1%), Paraíba (6,7%) e Roraima (6,3%). O Piauí também cresceu mais que a média do Brasil e do Nordeste, cujas economias se expandiram, respectivamente, 4% e 4,8%. A renda per capita estadual passou para R$ 4.213,00 em 2006, enquanto a do país foi de R$ 12.688,00 e a do Nordeste, R$ 6.029,00. Segundo o professor e mestre em Economia, Sebastião Carlos, da Universidade Federal do Piauí, esse aumento do PIB tem reflexo imediato no aumento do volume de emprego, crescimento da renda do trabalhador e maior número de empresas. Só para se ter uma idéia desse crescimento, o professor destaca alguns itens importantes na economia como a renda mensal que é hoje, em média de R$ 546,00, sendo superior ao salário mínimo de R$ 415,00. Infelizmente, a renda per capita ainda é a menor do Brasil, apesar do discurso. Além do mais, o desenvolvimento defendido pelo poder público é apenas relativo, pois que as condições supostamente favoráveis não trouxeram grandes indústrias. Em 2006, 17.700 empresas formalizadas, enquanto em 2000 12.000. Noventa e cinco por cento delas são de microempresas.

REPÓRTER: Toni Rodrigues

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