domingo, 14 de junho de 2009

Primeira DAMA USA

Michelle Obama inova com jeito franco na Casa Branca
Primeira-dama dos EUA é conhecida por ser honesta e 'pé no chão'.
Mães se identificam com seus comentários sobre família e trabalho.

Rachel L. Swarns
Do New York Times

A pergunta capciosa veio de um garoto enérgico. Ele fez o questionamento à nova primeira-dama: "Você gosta de cozinhar para sua família, apesar de dispor de cozinheiros e tudo mais?"



Foto: Doug Mills/The New York Times Barack e Michelle Obama falam em escola (Foto: Doug Mills/The New York Times)
No mundo rarefeito das esposas presidenciais, este tem sido um território perigoso. Outras primeiras-damas analisaram seus comentários com cuidado, a fim de evitar sugerir que haviam, alegremente, abandonado suas obrigações culinárias (Hillary Rodham Clinton e Laura Bush elogiavam seus biscoitos caseiros, apesar de nenhuma das duas cozinhar muito na Casa Branca). Porém, Michelle Obama não mediu as palavras. "Não sinto falta de cozinhar", disse Obama, rindo, enquanto recebia perguntas de estudantes que visitavam a Casa Branca. "Estou bem com os outros cozinhando. A comida deles é excelente". Há muito tempo, Obama é conhecida por ser honesta e "pé no chão". Agora, como primeira-dama, ela está trazendo um pouco dessa sensibilidade para a Mansão Presidencial, particularmente quando se fala nos desafios diários da vida doméstica. É uma sinceridade que também pode ser cuidadosamente considerada. Como a maioria das mulheres de políticos, Obama evita ser controversa. Ela não fala muito sobre seu forte interesse em influenciar políticas públicas ou se sente falta de ganhar seu próprio dinheiro. No entanto, desde que chegou à Casa Branca, há quatro meses, ela já disse à revista "People" que seu casamento não é perfeito. Ela contou a jovens mulheres sobre seu questionamento em relação ao equilíbrio entre o trabalho e a maternidade. Ela também confessou que as filhas fazem um péssimo trabalho ao passear com o cachorro, apesar de seu estímulo. No seu primeiro dia de cavações extenuantes no jardim da Casa Branca, com câmeras registrando tudo e repórteres rabiscando, ela foi a primeira a aumentar a voz com uma meia-piada, meia-lástima: "Já acabamos?" Durante várias gerações, as primeiras-damas distribuíam detalhes sobre sua vida pessoal e familiar para humanizar a si próprias e aos maridos. No entanto, analistas políticos e historiadores afirmam que Obama está oferecendo uma nova perspectiva, ao discutir a realidade diária enfrentada por ela como uma profissional com duas filhas para criar e um casamento com uma agenda atribulada. Ao fazê-lo, afirmam especialistas, ela está criando uma relação mais intimista com o público, particularmente com a geração moderna de mães que trabalham fora, que geralmente se identificam com suas reflexões sobre a luta para conciliar o trabalho e a vida familiar.
"Não existe um dia sequer", disse Obama a um painel de jovens mulheres, na Howard University, no começo deste ano, "em que eu não me questione se estou fazendo a coisa certa para mim, minha família, minhas filhas".

Johnetta Boseman Hardy, organizadora do painel, ficou impressionada.

"Ela está dizendo às pessoas: 'Não há problema em dizer que lidar com a maternidade é difícil; não há problema em dizer que não tem todas as respostas prontas'", disse Hardy, mãe e trabalhadora, coordenadora do Instituto de Empreendedorismo, Liderança e Inovação da Howard University. "Não esperava que ela fosse tão real."

Imagem suave

A abordagem de Obama também pode trazer benefícios políticos, afirmam observadores. Isso suaviza a imagem de uma primeira-dama que era executiva de um hospital e formada em uma das universidades mais prestigiadas do país. Isso também parece ter um apelo às mulheres casadas, um cobiçado grupo de eleitoras indecisas que votou nos republicanos nas últimas duas eleições presidenciais. Em abril, 67% das mulheres republicanas enxergavam Obama de forma favorável, contra 46% em janeiro, segundo o Pew Research Center. "Isso a torna mais acessível, mais ligada", disse Lisa Caput, antiga secretária de imprensa de Clinton na Casa Branca. "Ela está próxima de mães trabalhadoras por todos o país, não importando a visão política, raça, nível social. Ela fala sobre um assunto que ocorre em todos os lares americanos". Existem, é claro, limites para sua sinceridade. Obama, criticada durante a campanha presidencial por ser, algumas vezes, demasiado franca, já não descreve o hálito matinal do marido como "fedorento" ou sua mania de deixar meias sujas por toda a casa. Nos seus primeiros dias em Washington, Michelle sugeriu que uma pequena garota, cujo sonho era ser primeira-dama, considerasse uma carreira mais lucrativa. "Não é bem pago", disse a primeira-dama. Desde então, ela descreve seu trabalho como o melhor na Casa Branca. Ainda assim, enfatizar o lado doméstico subverte a noção de que o foco na família é o terreno dos republicanos, disse Nancy Beck Young, da Universidade de Houston, historiadora que estuda as primeiras-damas.
"De que os democratas têm sido acusados? De não dar valor à família", disse Young. "Ela está, na verdade, iniciando uma conversa sobre valores familiares, sem demonstrar a linguagem dos republicanos conservadores. Acho que é assim quem ela realmente é, mas também acredito que isso tem um objetivo político".

Exposição

Primeiras-damas há muito tempo lutam com o que dizer, e como dizer. Grace Coolidge, a primeira a se dirigir ao público, através do rádio, manteve seu comentário curto, por desaprovação do marido. "Adeus", disse ela, no final do mandato. Lou Henry Hoover se sentia frustrada como uma mulher instruída que não pôde buscar uma carreira na juventude, mas, como primeira-dama, ela mantinha sua opinião para si mesma. Eleanor Roosevelt escreveu uma coluna no jornal, enquanto o marido era presidente, mas raramente falava sobre sua vida pessoal ou seu casamento. Nesse sentido, Betty Ford foi inovadora. Ela falou sobre sua luta contra o câncer de mama e refletia sobre se seus filhos haviam fumado maconha. No entanto, ela às vezes se arrependia de tamanha sinceridade. Quando Ford contou ao programa de televisão "60 Minutos" que apoiaria sua filha, na época com 18 anos, se ela se envolvesse sexualmente com alguém, recebeu centenas de cartas raivosas. Porém, seu principal arrependimento foi ter exposto a filha àquele tipo de conversa. "Ela chegou perto, algumas vezes, de dizer que preferia não ter feito aquele comentário", disse Maria Downs, na época secretária social da Casa Branca.
Mesmo assim, Gordon Johndroe, secretário de imprensa de Laura Bush, acredita que as discussões domésticas de Obama implicam poucos riscos, pois os americanos adoram ouvir coisas sobre a primeira-família. Os pais dos dias de hoje geralmente balançam a cabeça, em concordância e com conhecimento de causa, quando a primeira-dama diz estar feliz por não ter de cozinhar ou que tem dificuldades em convencer as filhas a levar o cachorro para passear. "Acordei às 5h15 da manhã para passear com o cachorro", disse Obama, com tristeza, a um grupo de esposas de congressistas, no mês passado. "Apesar de que as crianças, em teoria, devem fazer grande parte do trabalho, eu ainda acordo às 5h15 para levá-lo para passear. Então, meu recado para quem tem crianças pedindo um filhotinho é: você tem de querer o cachorro".

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